Dinâmicos,
brilhantes, interativos e audaciosos, mas também impacientes, descomprometidos,
desrespeitosos e até insubordinados. Estes são traços comuns aos integrantes da
chamada ‘geração Y’, formada essencialmente por jovens nascidos
entre 1979 e 1995. Tais características foram moldadas em um meio bem diferente
do mundo a que estavam acostumadas as gerações
anteriores: a internet. Neste ‘novo’ universo, tão caro aos mais
jovens, predominam as relações horizontais, fáceis e sem barreiras; a total
independência para definir horários e prioridades; uma boa dose de narcisismo e
o costume de ter tudo sempre à mão, ou melhor, a um clique. Por fim, muitos de
seus membros vêm de famílias com pais ausentes, o que só agrava a dificuldade
de lidar com figuras de autoridade.
O
comportamento deste grupo, que hoje enfrenta seus primeiros desafios
profissionais, costuma causar, a priori, estranhamento. Hoje, não são incomuns
relatos de jovens recém-contratados que, sem cerimônia, questionam –
quando não criticam – diretamente seu superior. Qualquer semelhança com o
caso Neymar não é mera coincidência, dizem os
especialistas.
As
empresas, por sua vez, a despeito de estarem inseridas na era tecnológica,
possuem também seus traços culturais – de outra época, é claro, quando a
sociedade era pensada como algo menos mutável e mais estratificado. Valorizam,
por exemplo, o respeito, a hierarquia, o trabalho em equipe, além do
cumprimento de inúmeras regras, horários e metas.
Embate é natural – Diante
dessas distinções, Paula Giannetti, superintendente
do departamento de Recursos Humanos do Grupo Santander, explica que o embate é
inevitável, e precisa ser encarado como algo natural. “O jovem da
atualidade sabe o que é ser um indivíduo e quer ter poder de escolher”,
afirma.
Para
se adaptar a este ‘fenômeno cultural’, as empresas esforçam-se para
entender a geração Y. A própria Paula Gianetti
coordena uma iniciativa que visa atingir esse objetivo. Trata-se da rede social
‘Caminhos e Escolhas’, do Santander. É a forma que o banco encontrou
para se aproximar do público jovem e ouvir suas demandas, mas também para
comunicar seus valores e, até, selecionar candidatos para vagas de trabalho.
Os
especialistas alertam para os mais problemáticos aspectos negativos dessa
geração: a ambição desmedida, a falta de compromisso e o atrevimento. Diante
deles, os gestores defendem que as empresas não arredem pé de conceitos
fundamentais ao bom andamento dos negócios, como respeito, fidelidade e foco no
trabalho.
Defesa dos princípios –
Manter comunicação com a geração Y não significa aceitar passivamente
deficiências incômodas de alguns jovens, as quais podem, a propósito,
prejudicar eles próprios. “A arrogância desta
nova geração é clara e pode trazer conseqüências desagradáveis para sua
carreira. Ambição é muito diferente de quebra de hierarquia. O jovem precisa
atravessar um longo caminho para chegar onde deseja e não almejar a patente
mais alta da corporação em apenas um ano”, explica Renato Grinberg, diretor do site Trabalhando.com.br.
Para
Grinberg, os ambientes sociais diferentes – o
corporativo e do jovem em início de carreira – têm de, em vez de se
repelir, se aproximar a fim de extrair o que há de melhor em cada um. Frente a
esse desafio, alguns administradores de empresas ainda estariam um pouco perdidos.
“Alguns chefes chegam a instigar os jovens a interpelar hierarquias,
devido ao talento que mostraram ao longo do tempo. Por outro lado, há aqueles
que tentam frear a ansiedade dos mais novos ao lhes
oferecer um plano de carreira, com boas perspectivas de crescimento e, mais
importante, preparação para encarar a sucessão natural dos cargos dentro da
empresa”, analisa Fernando Montero, diretor da Human Brasil.
A
fórmula correta para apaziguar os ânimos e extrair dos jovens tudo o que eles
possam oferecer tem de ser encontrada por cada companhia. A busca do diálogo,
contudo, continua a ser o básico – ainda que, para isso, seja preciso
lançar mãos das ferramentas da própria internet.
Os
especialistas são unânimes em afirmar que o balanço final é favorável. A
chegada dos jovens ao mercado de trabalho agrega uma série de valores às
empresas. “Vamos olhar de maneira positiva, por exemplo, para o fato de o
jovem querer fazer tudo ao mesmo tempo. Pode-se aprender muito com eles”,
ressalta Paula Giannetti. Entretanto, esse
profissional precisa conhecer bem os limites a sua volta. “O jovem de
destaque, para que conquiste o sucesso efetivo, deve honrar seus compromissos
na empresa para que seus gestores adquiram confiança”, afirma Renato Grinberg.
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