O melhor modo para atingir o
samadhi [absorção meditativa] é aprendê-lo através da prática
da meditação sentada. Depois de termos praticado
suficientemente a meditação sentada por um longo de período de tempo,
descobriremos que somos capazes de entrar em samadhi quando caminharmos
nas florestas, ao lado de um
rio na montanha ou no meio de uma campina. Logo após este estado ser
atingido, descobriremos que somos capazes de entrar em samadhi até mesmo
em uma rua agitada no meio de uma cidade barulhenta. Os estados de
samadhi podem ser frágeis no
começo, mas com a prática tornam-se muito fortes.
No início, devemos aprender como entrar em samadhi em uma sala quieta
com poucas distrações. A luz deve ser reduzida mas a sala não deve
estar escura, pois a escuridão pode induzir ao sono. É bom ter um altar
ao Buda em sua sala de meditação e é bom curvar-se diante do
Buda e acender incenso antes de começar a meditar. Junte seus
pensamentos enquanto acende o incenso e focalize sua atenção sobre o
Buda. Seu assento não deve estar no vento ou no sol, e sua sala de
meditação não deve ser úmida. O objetivo da meditação é elevar sua
consciência e não o de fazê-lo ficar doente.
Roupas folgadas e confortáveis devem ser vestidas para a meditação, e o
estômago não deve estar cheio de comida.
Depois de comer, é melhor esperar pelo menos uma hora depois antes de
começar a meditar. Aprendendo como controlar e pacificar estas três
áreas de nosso ser, aprendemos como perceber a beleza maravilhosa do
Buda que já está dentro de nós.
A grandeza do samadhi
é como a grandeza de um rei
porque o samadhi controla tudo.
— do Shastra Mahaprajnaparamita
Controle do corpo
Os sete aspectos do Buda Vairochana sentado são um fundamento básico para a medição
budista. Discutiremos estes sete aspectos abaixo.
1. A posição de lótus. Falando de modo geral, a posição de lótus
é a melhor posição para a meditação sentada. A posição de lótus
completo é uma posição de pernas cruzadas em que o pé descansa sobre o
topo das coxas, bem acima dos joelhos. A posição de meio-lótus é uma
posição de pernas cruzadas em que apenas um pé descansa no topo de uma
coxa, enquanto o outro pé descansa abaixo da outra coxa. A posição de
lótus completo é considerada a melhor posição para
a meditação porque estabiliza o corpo muito efetivamente. Se esta
posição for desconfortável, a posição de meio-lótus deve ser usada. Se
esta posição também for desconfortável, não há problema em meditar
sentado sobre uma cadeira ou sobre um banquinho baixo designado para
meditação. A coisa mais importante sobre qualquer posição que escolha é
que suas costas estejam
eretas e que não toquem qualquer coisa.
As fontes chinesas geralmente reconhecem dois tipos de posição de lótus
completo. A posição em que o pé esquerdo é colocado sobre a coxa
direita e então o pé direito é colocado sobre a coxa esquerda é usada
para obter bênçãos e é chamada a "posição auspiciosa". Quando a ordem de
colocação dos pés sobre as coxas é invertida, a posição é
usada para subjugar demônios e é chamada a "posição de subjugar
demônios".
2. Posição das mãos. Uma vez que uma posição sentada seja
adotada, as mãos devem descansar confortavelmente no colo, com as costas
de uma mão descansando sobre a palma da outra. As pontas dos polegares
devem tocar levemente uma à outra. Esta posição é muito boa para a
circulação de energias dentro do sistema é chamada
mudra do dharmadhatu.
3. Posição das costas. Já que a espinha é o principal centro
nervoso do corpo, onde as energias das extremidades se juntam, é
importante que a espinha esteja ereta enquanto se medita. As pessoas que
têm costas fracas ou que não estão acostumadas a se sentar sem qualquer
suporte podem precisar de algum tempo para se
acostumarem a se sentar deste modo. A maioria das pessoas é capaz de se
sentar corretamente sem muita prática. A espinha deve estar ereta na
meditação, mas não deve estar rígida, dura ou ereta de forma desnatural.
Acima de tudo, devemos nos sentir relaxados e confortáveis em nossa
posição de meditação. Antes de tudo, devemos desfrutar o ato físico de
se sentar para meditar.
4. Posição dos ombros e do tórax. Os ombros devem ser mantidos
confortavelmente para atrás, em uma posição que permita que o tórax relaxe para que a respiração possa fluir suavemente.
5. Posição do pescoço e da cabeça. Tanto a cabeça quanto o
pescoço devem ser mantidos eretos. Se a cabeça se inclinar muito para
frente, a circulação através do pescoço não será a melhor. Se
vistas de lado, as orelhas devem estar alinhadas diretamente acima com
os ombros. Esta posição permite que a respiração viaje suavemente
através do nariz até os pulmões e fornece uma circulação excelente
através do abdômen e da cavidade torácica. Alguma atenção deve ser dada
aos músculos atrás do pescoço. Se estes músculos estiverem relaxados e
bem alinhados, as costas inteiras geralmente cairão na posição natural
muito facilmente.
6. Posição da boca. A mandíbula e os lábios devem estar levemente fechados. A ponta da língua deve estar gentilmente atrás dos dentes
frontais superiores.
7. Os olhos. Os meditadores iniciantes geralmente praticarão melhor se manterem seus olhos
levemente abertos e olharem fixamente para algo a meio ou um metro à frente. Isto ajudará a impedir a sonolência.
Estes sete pontos são básicos para nossa postura física enquanto
estivermos meditando. Abaixo mencionarei mais oito pontos que também são
importantes para atingir uma posição de meditação confortável e
efetiva.
1. Paz. Nosso assento e nossa sala em que meditamos devem estar
arrumados de um modo que seja condutivo a sentimentos de paz e conforto.
2. Não estar constringido. Roupas apertadas, cintos, relógios,
óculos, jóias ou qualquer outra peça que constrinja a circulação devem
ser soltos ou removidos antes de meditar.
3. O assento. Se estivermos usando a posição de lótus ou meio-lótus, devemos nos sentar sobre uma almofada confortável que não
deslize ao redor nem mude facilmente a sua forma. Uma boa almofada deve ser grande o suficiente para suportar as pernas e
os joelhos, e deve ter cerca de quatro dedos de grossura.
Se esta posição não for confortável, um banquinho baixo designado para
meditação pode ser usado, assim como a ponta de uma cadeira ou a ponta
de uma cama dura. A postura é importante na meditação. Porém, como os
corpos e os hábitos das pessoas variam muito, é impossível estabelecer
apenas uma ou duas regras para sentar. Novamente, o conforto e uma
espinha ereta que não toque qualquer coisa são básicos para todas as
boas posições de meditação.
4. Cobrir os joelhos. Já que a nossa circulação diminui durante a
meditação, é importante que os seus joelhos sejam mantidos quentes. Se o
tempo estiver frio, eles devem ser cobertos com um pequeno cobertor ou
pano.
5. Purificar a respiração. Repita a seguinte ação três vezes:
inale através do nariz e exale através da boca. Enquanto exalar, imagine
que está exalando as toxinas e máculas do seu sistema. Tanto as suas
inalações
quanto as exalações devem ser lentas e atentas. Se não se sentir
relaxado depois de fazer este exercício, repita-o.
6. Vire seu corpo algumas vezes em ambas as direções e então se
sente quietamente, sem se mover mais. Se a sua posição não
parecer correta, vire-se novamente e se sente quietamente de novo. É
muito importante se sentar enquanto estiver meditando. Movimentos
ocasionais podem ser tolerados, mas todo meditador deve se esforçar para
atingir longos períodos de tempo durante os quais não haja qualquer
movimento do corpo.
7. A face. Assim como todas as outras partes do corpo, a face
deve estar relaxada. Um sorriso bem leve, se isto for natural, é uma boa
expressão facial para meditar. A própria face não deve ser rígida ou
severa.
8. As costas não devem se apoiar em qualquer coisa. Durante a
meditação, as energias dentro do sistema naturalmente começarão a
retroceder na espinha e então subirão dentro dela. Se as costas
estiverem apoiadas em alguma coisa, este fluxo natural será bloqueado.
As três coisas mais básicas a se lembrar sobre sua posição de meditação
são
o conforto, a imobilidade e uma espinha ereta que não esteja apoiada em
qualquer coisa. A meditação deve ser agradável e assim devemos nos
fazer o tão confortáveis quanto possível. A imobilidade durante a
meditação ajuda-nos a
arrear e elevar todas as energias presentes em nosso sistema. Uma
espinha ereta, que não esteja apoiada em qualquer coisa. cria o canal
para essas energias subirem em direção aos centros superiores.
O samadhi é como a água pura e clara
Pois pode limpar todas as máculas.
— do Grande Tratado sobre a Perfeição da Sabedoria
Controle da respiração
O objetivo básico
do controle da respiração é o de transformar a respiração
áspera ou pesada em em uma respiração mais lenta e refinada. Uma vez
que o corpo esteja imóvel e que a respiração esteja controlada, a mente
naturalmente se tornará mais calma. Quando falamos de "controlar" a
respiração, é importante lembrar que nós a controlamos observando-a. Se
tentar forçar sua respiração a se tornar calma, você apenas causará
problemas. A simples observação da respiração é o melhor modo de fazê-la
ficar lenta e calma. As fontes chinesas geralmente reconhecem quatro
tipos de respiração.
1. Respiração ventosa. Este tipo de respiração faz sons nas narinas.
2. Respiração irregular. Este tipo de respiração é quieto, mas é irregular e às vezes
pára e começa.
3. Respiração não-refinada. Este tipo de respiração é quieto e regular, mas não é refinado. Não é tão confortável quando no quarto tipo de respiração.
4. Respiração correta. Este tipo de respiração é quieto,
regular, refinado, muito pacífico e agradável. Este tipo de respiração
traz grande paz à mente e ao coração.
Este quarto tipo de respiração é mais rapidamente atingido simplesmente
observando a respiração. Se tentar se forçar a respirar ou
a se sentir de um certo modo, você provavelmente falhará. A paz que
você cria ao seu redor na meditação continuará a crescer com a prática.
Em tempo, você descobrirá que pode atingir paz e calma facilmente.
Quando a respiração e o corpo estão pacíficos, a mente tem um lugar do
qual pode contemplar e compreender a si mesma com sucesso. Quando a
respiração e o corpo estão pacíficos, a mente pode entrar em samadhi.
A importância da respiração pode ser vista na seguinte passagem dos
Seis Ensinamentos
Maravilhosos, um livro muito influente que registra um discurso
dado pelo grande monge Chih-i (538-597) no templo Wa-kuan na presente
província de Jiangsu. A data precisa deste discurso não é conhecida.
A "porta
maravilhosa do seguir" abre o caminho para os dezesseis dharmas
excepcionais. O primeiro destes dharmas é observar a inalação da
respiração. O segundo é observar a exalação da respiração. O terceiro é
observar a duração da respiração. A quarta é observar a respiração
preencher o corpo inteiro. O quinto é eliminar todos os movimentos
corporais. O sexto é absorver a felicidade na mente. O sétimo é absorver
a alegria na mente. O oitavo é absorver todas as atividades mentais na
mente. O nono é criar felicidade na mente. O décimo é unir todas as
atividades da mente. O
décimo primeiro é descobrir a liberação na mente. O décimo segundo é
contemplar a impermanência. O
décimo terceiro é contemplar a dispersão de todas as coisas. O décimo
quarto é contemplar o estado sem desejos. O décimo quinto é contemplar
a extinção. O
décimo sexto é contemplar o não-apego perfeito.
Controle da mente
A mente
não-treinada tem uma mente própria. Os meditadores muitas vezes a
comparam a um
macaco bêbado que vaga através da floresta sem rumo, sem entendimento e
sem o menor
auto-controle. Nossas mentes parecerem pertencer a nós, mas assim que
sentamos com a idéia de que gostaríamos de dar uma olhada mais de perto
em seus trabalhos, descobrimos que
elas realmente não nos obedecem.
O Shastra Yogacharabhumi diz que há nove níveis diferentes de
equilíbrio meditativo ou "permanência mental". Podemos começar a
aprender como controlar nossas mentes estudando estes estágios de
equilíbrio e os comparando com nossa própria meditação.
1. Permanência interiorizada. Este é o primeiro estágio. Neste estágio, voltamos nossa atenção do exterior e a puxamos completamente para dentro.
2. Permanência equilibrada. No começo deste estágio, a mente é
interiorizada, mas sua consciência é descontínua e aleatória. Primeiro
há um tipo de consciência, então outro e então outro. O modo de
trabalhar com este tipo de estado mental é permitir que seus pensamentos
fluam. Siga-os de momento a momento sem se tornar
apegado a eles. Com a prática, este tipo de consciência descontínua
gradualmente se assenta em um estado de serenidade pacífica onde a
consciência é clara e equilibrada.
3. Permanência pacífica. Este estágio é caracterizado por uma
maravilhosa calma e paz. A chegada deste estágio é como a chegada do
tempo de outono em climas temperados. Ele não vem todo de uma vez.
Quando o fim do verão se move para o outono e o inverno, o esfriamento
esfriamento
gradual da terra é manifestado aos poucos. Um mero dia ou dois de
temperaturas frias em setembro será seguido por séries de três ou quatro
dias de temperaturas ainda mais
frias em outubro. Por volta de novembro, haverá temporadas frias e em
dezembro o tempo quente terá se tornado uma
lembrança. Nesta metáfora, o começo da permanência pacífica é como o
começo do outono e inverno. Primeiro reconhecemos uma pequena mudança e
então, em breve, nos tornamos acostumados a ela. Quando reconhecer o
começo da
permanência pacífica em sua meditação, perceba suas qualidades e
aprecie o seu aprofundamento.
4. Permanência próxima. Nesta estágio, somos capazes de
experienciar períodos em nossa meditação durante os quais os pensamentos
delusivos não surgem. Neste estágio, também aprendemos
a dizer quando os pensamentos delusivos surgirão, antes mesmo de eles
surgirem. Com esta habilidade, somos capazes de defender nossa meditação
tanto de distrações internas quanto externas.
5. Controle. Nesta estágio, entendemos profundamente os méritos
do samadhi e compreendemos completamente que os dez aspectos são as
causas de toda delusão. Os dez aspectos são forma, som, odor, sabor,
toque, ambição, raiva, ignorância, masculinidade e feminilidade. Neste
estágio, conquistamos nossa mente e não somos mais vítimas de suas
excitabilidade.
6. Grande paz. Este estágio é caracterizado pela profunda calma que vem
de entender completamente que a ambição, a raiva e a ignorância são as fontes de toda delusão.
7. Paz suprema. Neste estágio, os pensamentos delusivos não têm
oportunidade de
surgir. A mente está em um estado completamente natural e muito livre. O
que quer que venha nela, vem nela, e o que quer que saia dela, sai
simplesmente e sem deixar qualquer resíduo.
8. Unidirecionalidade. Neste estágio, a mente está reunida em um
único ponto
— descansa dentro de si mesma e está completa em si mesma. Nada está
faltando e nenhuma interrupção de consciência pode ocorrer. Algum
esforço é requerido para alcançar este estado.
9. Equanimidade. Este estágio chega apenas depois de longa
prática. Nenhum esforço é requerido para alcançá-lo. Neste estágio, a
mente entrou totalmente em samadhi. A bondade permanece sem esforço e o
mal permanece longe sem tentar entrar.
Enquanto observar os estágios acima, é sempre uma boa idéia perguntar a si mesmo onde a sua mente está. A mente de
Buda está além da localidade e, já que as profundezas de sua mente são a mente de
Buda, sua mente também está fundamentalmente além da localidade.
Nosso apego ao pensamento delusivo é o que nos mantém no samsara. O
mesmo apego é o que nos impede de atingir um profundo samadhi na
meditação. A delusão mais fundamental da mente é sua necessidade teimosa
de se agarrar as coisas
— às idéias, conceitos, desejos, formas, emoções, pessoas etc. A mente é
como uma grande mão que sempre quer agarrar tudo que se aproxima. Os
budistas chineses usam esta necessidade da mente
de se apegar a algo como uma ferramenta para libertar a mente.
A Explicação Graduada da Perfeição da Meditação nos ensina
cinco métodos para usar esta mesma tendência de agarrar as coisas como
um meio de nos libertarmos desta tendência. O objetivo deste métodos é
emboscar o agarramento habitual da mente em algo que o libertará da
delusão.
1. Apegue a mente ao topo da cabeça. A palavra chinesa para apego como está sendo usada aqui é
hsi, que significa "atar", "apegar" ou "ligar". Esta mesma
palavra também é usada em chinês para denotar estar atado ao samsara ou
ao nosso karma. Como usado nestas cinco práticas,
hsi pode ser traduzida como "concentrar" em português, mas uma
distinção importante seria perdida. Usamos exatamente a mesma natureza
apegada da mente para fazer estes exercícios, assim como a usamos para
formar desejos ou medos de outros apegos que nos atam a este mundo.
A Explicação Graduada da Perfeição da Meditação nos aconselha a
"apegar a mente
ao topo da cabeça" como um modo de superara a sonolência e o torpor. A
mente pode ser preguiçosa em seus apegos
— sono, confusão e emoções confusas de ignorância tateante são muitas
vezes tão atrativas para ela
quanto as cores e formas brilhantes dos desejos claramente percebidos.
Quando elevamos nossos apegos inferiores ao topo da cabeça, vamos a um
longo caminho em direção a superar o que nos ata à delusão.
A Explicação Graduada da Perfeição da Meditação previne que, em
alguns casos, esta técnica pode levar a problemas físicos associados
com os ventos no corpo ou com um desejo de voar. Se isto acontecer, esta
técnica deve ser descontinuada.
2. Apegue a mente a lugares onde o cabelo encontra o escalpo.
Este é um lugar muito bom para centrar a atenção. É fácil
de sentir e a maioria das pessoas tem bons resultados quando tenta usar
esta técnica. Esta prática muitas vezes pode levar a uma compreensão
quase visionária do esqueleto humano e da impermanência do corpo. Em
alguns casos, o uso exagerado desta técnica pode fazer os olhos fitarem
para cima e perceberem nuvens brilhantemente coloridas ou mosaicos
abstratos de cor. Estas formas podem levar a mente a ver formas ainda
mais confusas e eventualmente podemos desmaiar. Por esta razão, é
importante não abusar deste tipo de meditação.
3. Apegue a mente às narinas internas. As narinas são as portas
de entrada que permitem que o ar passe para dentro e para fora do corpo.
Se direcionarmos nossa atenção para as narinas internas, nossa mente
logo se tornará perdida no ir e vir da respiração. Em breve, nenhum
pensamento surgirá. Esta técnica é muito boa para nos ajudar a perceber a
impermanência de nossos corpos e de todas as coisas. É também uma das
melhores técnicas para acalmar a mente e conduzir ao samadhi.
4. Apegue a mente ao umbigo. O umbigo é o "oceano da
respiração". É uma fonte central de energia vital no corpo humano.
Devido a esta importância, este ponto é chamado o "palácio central" em
chinês. Quando apegamos a mente ao umbigo na meditação, fazemos o sangue
e a linfa
fluírem no centro do corpo. Este fluxo tem grandes benefícios de cura e
muitos tipos de doenças podem ser curados por
ele. Quando usamos esta técnica, também podemos ter uma visão das
trinta e seis partes maiores do corpo reconhecidas pelo
budismo. Esta visão
pode levar a um samadhi muito profundo. As mulheres devem ser
cuidadosas em não usar esta técnica muito freqüentemente, já que pode
causar sangramento menstrual excessivo.
5. Apegue a mente à terra. Quando focalizamos a mente sobre a
área abaixo de nossas almofadas de meditação, trazemos grande
estabilidade à nossa meditação.
Deste cinco métodos, apegar a mente às narinas internas, ao umbigo e à
terra são os mais estabilizadores e geralmente os mais efetivos. Um
princípio geral que deve nascer na mente, quando quer que
estivermos meditando, é que se o corpo se tornar extremamente leve e
começar a se sentir como se estivesse flutuando para cima, devemos
baixar nosso centro de atenção. Se o corpo começar a se sentir muito
pesado, como se estivesse afundando, devemos subir nosso centro de
atenção.
Desembaraçar a si mesmo
do desejo e dos caminhos maus
requer tanto visão quanto sabedoria.
Desembaraçar a si mesmo do mundo
e descobrir a alegria interior
é o começo da meditação.
— do Grande Tratado sobre a Perfeição da Sabedoria
Terminando a meditação
Assim como o
processo de se preparar para meditar é importante, assim também é o
processo de se levantar da meditação. Se apenas pularmos de nossos
assentos e corrermos por aí sem uma transição adequada, podemos perder o
que
obtivemos durante a meditação e podemos até mesmo nos fazer sentir
doentes.
Quando entramos em meditação, nos movemos do que é áspero e forçado
para o que é refinado e gentil. Quando terminamos a meditação, nos
movemos na direção oposta
— o mundo calmo e gentil da mente interior luminosa deve abrir caminho
lentamente para os requerimentos do movimento físico, da fala e dos
pensamentos que nos carregam durante o dia.
Se nos levantarmos abruptamente depois de meditar e nos jogarmos de
volta no mundo, podemos fazer com que tenhamos uma dor de cabeça, que
desenvolvamos rigidez nas juntas ou algum outro problema físico. A
transições impensadas da meditação de volta para a consciência ordinária
pode também contribuir ao estresse emocional ou
irritabilidade. Para estas ocasiões, é importante prestar atenção aos
cinco pontos seguintes quando se levantar da meditação.
1. Mude seu foco para novas condições. Quando decidir que é a
hora de terminar sua meditação, você deve mudar sua atenção do interior
para o exterior. Conforme sua mente começar a refocalizar sobre as
sensações externas, você deve se concentrar sobre o processo de sair da
meditação.
2. Abra sua boca e exale algumas vezes. Quando fizer isto,
imagine que os últimos venenos em seu corpo estão sendo expelidos. Sinta
como todo o seu corpo participa no ato de respirar.
3. Mova seu corpo superior. Primeiro, gentilmente mova algumas vezes o seu corpo superior para trás e para frente, enquanto ainda estiver
sentado; então, lentamente gire e mova as outras partes do seu corpo, sem
forçar. Massageie gentilmente os seus ombros, braços, mãos, pescoço e cabeça.
4. Mova suas pernas. Depois de ter feito isso, comece
gentilmente a se mover e a esticar suas pernas. Elas devem começar
gradualmente a se sentir flexíveis e seguras. Se você movê-las
subitamente, elas podem começar a se sentir duras e desconfortáveis.
5. Massageie sua pele. Gentilmente massageie sua pele até que sinta um formigamento agradável.
6. Massageie seus olhos. Uma vez que o seu corpo e as suas mãos
tenham começado a se sentir
re-estimulados, massageie gentilmente os seus olhos até que você sinta a
circulação normal retornar a eles. Quando seus olhos se sentirem
confortáveis e prontos, abra-os.
7. Expila o calor. A meditação muitas vezes faz a temperatura
do corpo aumentar
— algumas pessoas até mesmo suam quando estão meditando. Ao se levantar
da meditação, é importante expelir este calor ou permitir que ele se
estabilize. O corpo pode estar bem sensível depois da meditação.
Sensações
incomuns devem ser respeitadas e se deve permitir que o seu sistema
retorne naturalmente à sua homeostácia costumeira.
Ao nos levantarmos da meditação, às vezes é útil refletir sobre porque
meditamos. A meditação é uma técnica para acalmar nossos pensamentos
deludidos, de modo que a verdadeira sabedoria possa pelo menos nascer.
Conforme
gradualmente vemos através das delusões de nossa mente, nosso
entendimento da iluminação aumenta lentamente. Conforme nosso
entendimento aumenta, nosso desejo pela iluminação também cresce. Este
desejo não é um desejo samsárico por poder ou habilidades psíquicas. É
um desejo de melhorar nossa sabedoria e compaixão. É um desejo de ser de
maior benefício para os outros seres sencientes. É um desejo de se
tornar benevolente como um
buda.
A sabedoria que cresce em nós através de nossa prática de meditação
deve ser aplicada às nossas vidas no mundo real. A meditação que não é
uma fonte de sabedoria prática e socialmente benéfica é provavelmente
uma meditação
mal direcionada. Hui-neng, o sexto patriarca do budismo Zen.
A meditação não o
carregará para um outro mundo, mas revelará as dimensões mais profundas e
maravilhosas do mundo no qual você já vive. Contemplar calmamente estas
dimensões e trazê-las no serviço da compaixão e da bondade é o caminho
correto para fazer ganhos rápidos na meditação, assim como na vida.
(Hsing Yün Ta-shi. Only a great rain: a guide to Chinese Buddhist
meditation.
Traduzido por Tom Graham, introdução de John McRae. Somerville: Wisdom, 1999. Pág.
34-39.)